por Daniela Amorim (texto e edição), Tânia Soares & Carolina Almeida
Do outro lado, distantes do olhar público, estão as pessoas que ajudam os políticos a construir a sua imagem polida e diplomática.
Numa era onde se recorre à espetacularização da política para conquistar a atenção das audiências, as figuras políticas são cada vez mais mediáticas e conhecidas do público. Afinal, os mesmos nomes estão sempre presentes nos cabeçalhos dos principais meios de comunicação. No entanto, atrás destas figuras existem estratégias de comunicação e diversos profissionais da área.
“O nosso objetivo não é aparecer, mas sim enaltecer positivamente a presença de alguém” diz Gabriel Gonçalves. O Coordenador do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Gondomar afirma que a população, de forma geral, não conhece o trabalho dos profissionais da área da comunicação. Assim, o jovem de 24 anos explica que os assessores trabalham “nas sombras".
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade Letras da Universidade do Porto, admite que a assessoria é a área da comunicação estratégica que mais o fascina. Gabriel defende que as atribuições de um assessor de imprensa vão muito além de “lançar apenas press-releases”.
O assessor de imprensa é então aquele que define um plano de comunicação estratégica, tendo em conta as particularidades do assessorado (pessoa a título individual ou uma organização): “A partir daí as tarefas que desenvolvemos são sobretudo manter uma relação com os jornalistas, com os órgãos de comunicação social e saber muito bem as suas rotinas”. Outras funções mais tradicionais envolvem “a redação de comunicados de imprensa, as notas de agenda, os comunicados institucionais e compreender se os jornalistas vão pegar numa temática que nós sugerimos ou não”.
Ser assessor acarreta vários desafios e “a gestão de crise também é algo para o qual tenho de estar preparado” confessa o entrevistado, assegurando que um bom assessor tem de estar preparado para enfrentar eventuais crises e se possível, até antevê-las. Muitas vezes os políticos não sabem como lidar com uma crise e a visão “fria e pragmática” de um assessor pode ser fundamental para encontrar soluções.
“Há muitas crises que são evitadas porque o assessor está a par da situação e aquilo nunca chega a ser uma crise.”
Sobre a relação com os meios de comunicação, Gabriel Gonçalves afirma que têm um papel fundamental na agenda mediática, existindo uma relação “simbiótica” e “profissional” entre jornalistas e assessores de imprensa. “Para forçarmos a agenda mediática do nosso assessorado temos de contar com os jornalistas, não há hipótese”. Por outro lado, os jornalistas também recorrem muitas vezes aos assessores de imprensa para obterem contactos de políticos.
Apesar da “curta” experiência profissional, o assessor já teve a oportunidade de trabalhar também em organizações privadas. “À partida implementar agenda privada nos órgãos de comunicação social é mais difícil e o projeto tem de ter um interesse publico muito grande” explica salientando que grande parte das notícias do dia a dia são lideradas pelas instituições públicas.
Além disso, a sua “visão mais jovem” sobre a assessoria pode divergir da forma de atuação de profissionais com mais experiência. Ainda assim, Gabriel clarifica que muitos dos profissionais procuram sempre atualizar-se e trabalhar com uma “ótica de melhoria contínua”. O digital trouxe novos desafios e os jovens podem ser uma mais-valia para as organizações.
Durante os seus anos académicos, Gabriel Gonçalves foi presidente da associação Academia de Política Apartidária (APA) e Diretor de Comunicação do Núcleo de Estudantes de Ciências da Comunicação. Estes projetos foram fundamentais para desenvolver as suas soft skills e o fazerem compreender o que seria o futuro mercado de trabalho. “Estas organizações, mesmo sem fins lucrativos, têm trabalho a sério. E esse trabalho precisa de ser feito por uma equipa bem liderada e que tenha um bom projeto”.
O entrevistado explica que os profissionais da área da comunicação são indispensáveis na construção das figuras políticas e que quanto melhor for o “trabalho em rede dessa equipa melhor perceção [as pessoas] terão do político”. O assessor de imprensa tem uma visão mais “isenta e imparcial” conseguindo mostrar cenários mais ponderados às figuras políticas que, às vezes, “vivem muito na sua bolha”.
“As pessoas normalmente olham para o político e esquecem-se, porque é intuitivo e não pensam nisso, que há uma máquina por detrás a trabalhar para o político ou partido
Os desafios dos profissionais da comunicação
Isabel Moreira da Silva também atua como assessora de imprensa, embora atualmente esteja à frente do Departamento Municipal de Comunicação e Promoção da Câmara do Porto. No cargo desde dezembro de 2021, a diretora confessa que o carisma natural do atual presidente Rui Moreira “facilita muito o trabalho” dos profissionais de comunicação. “Temos um papel muito importante na retaguarda e na construção da reputação públicas destas figuras [políticas]”, explica.
A construção da imagem dos políticos é feita diariamente e através das mais diferentes estratégias de comunicação, naquela que é a segunda maior Câmara Municipal do país. Isabel também assume que existem sempre desafios novos e que o departamento de comunicação é fundamental na gestão de crises.
“Temos uma figura que é carismática e que recebe convites para entrevistas com muita frequência. Nesse sentido, temos de gerir muito bem a imagem dele, saber em que momentos chave faz sentido ele aparecer ou outros momentos em que deixamos mesmo de propósito o silêncio pairar no ar.”
É importante para um assessor de imprensa ser reconhecido dentro do seu meio e manter uma boa relação com os seus contactos. “O pior que pode acontecer a um assessor é ver a sua credibilidade manchada” começa por explicar, “nunca mentir é uma regra basilar”.
Isabel reconhece que as funções do cargo que desempenha são “aliciantes” e simultaneamente “desafiantes. É necessário saber “fazer passar a mensagem daquilo que é a atividade municipal sem que gere ruído” nos órgãos de comunicação social.
A diretora cita a construção das novas paragens da STCP como exemplo de algo que tem sido questionado com frequência pelos media: “Temos de explicar que estas paragens existem onde antes não existia nada. Estamos a acrescentar 100 abrigos em relação à concessão anterior – em que alguns deles são invertidos. Isto é um exemplo dos desafios que nos colocam e que passam muito pela pedagogia que temos de fazer quanto a determinadas decisões camarárias que afetam a vida das pessoas.”
A criação da estratégia de comunicação integrada para a reabertura do mercado do Bolhão foi também um grande desafio na sua carreira. Ouça abaixo a explicação de Isabel Moreira da Silva em relação a este tópico.
Muito bom trabalho, parabéns!