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Stress e Burnout: os seus impactos e o papel das empresas

por Tânia Soares (texto e edição)


O Relatório de Custo de Stress e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho da Ordem dos Psicólogos concluiu que o stress, o Burnout e a ansiedade custaram às empresas mais de 5,3 milhões de euros em 2022. No entanto, o seu impacto vai muito além do económico.


Rute Rocha


Rute Rocha, psicóloga e diretora Técnica do Serviço de Apoio Domiciliário no Centro Social e Paroquial de S. Mamede do Coronado, diferencia, em primeira instância, o stress de Burnout. O stress consiste “numa resposta do organismo que desencadeia uma série de reações químicas e fisiológicas” que pode ser acionado em diversos contextos para além do laboral. O Burnout, por sua vez, “é uma síndrome relacionada com o trabalho que implica sintomas como exaustão emocional, stress e esgotamento físico resultante uma experiência profissional desgastante”.


A sobrecarga laboral excessiva, as dificuldades de comunicação, o ritmo de trabalho, a complexidade organizacional, o isolamento e a desvalorização dos profissionais são fatores que contribuem para o desenvolvimento de Burnout.


Estar exposto a estes fatores afeta o desempenho profissional, visto que compromete o funcionamento do indivíduo ao nível, emocional, cognitivo, social e comportamental. Esta síndrome leva a uma maior probabilidade de erro, maiores taxas de absentismo, menor compromisso com o trabalho, menor satisfação laboral, aumento do uso de álcool e drogas, exaustão física e problemas conjugais e familiares”, afirma Rute.


A psicóloga refere ainda que o Burnout “é um conceito multidimensional”, que implica três dimensões:


  • Exaustão emocional – sentimento de esgotamento físico e psicológico, falta de energia e fadiga;

  • Despersonalização - estabelecimento de uma relação fria, distante, putada por cinismo para com os outros, atitudes negativas e inapropriadas;

  • Diminuição da realização pessoal e profissional - manifestada pelo sentimento de incompetência, falta de confiança e produtividade;


O Burnout pode então afetar uma empresa e sua dinâmica interna, sobretudo devido a baixas médicas, ao despedimento de "bons profissionais" e à diminuição da produtividade. Se esta síndrome não for identificada atempadamente pode “desgastar uma equipa na medida em que em muitos casos a pessoa que sofre de exaustão emocional não é compreendida”. A consequência pode ser a desvalorização do seu estado, por parte de colegas de trabalho ou até das suas chefias.


Stress e Burnout são conceitos que estão no centro da discussão devido (e não só) à pandemia do Covid-19.


Rute Rocha repara que a pandemia provocada pelo Covid-19 “veio agravar o sentimento de exaustão emocional sentido pelos profissionais, sobretudo na área da saúde, onde o Burnout já era uma realidade”. O contacto diário com a morte de pessoas, o medo e a angústia de um vírus desconhecido, a dificuldade na prestação de cuidados e a falta de equipamentos técnicos foram, entre outros fatores, motivos para “conduzir ao esgotamento emocional e à exaustão dos nossos profissionais”.


Atualmente, o foco e atenção do impacto do stress e Burnout estão principalmente nos estudantes e nas implicações que têm no ensino. O mercado de trabalho mostra-se agora igualmente desafiante.


“É importante que os jovens que ainda não entraram no mercado de trabalho compreendam que nas últimas décadas, o ritmo, a diversidade e o grau das mudanças no seio da sociedade aceleraram”, comenta a profissional de saúde. Esta aceleração a nível económico, tecnológico e do trabalho conduzem a mudanças organizacionais que precisam de adaptação por parte dos profissionais.


No entanto, Rute Rocha demonstra-se positiva e reconhece que não há motivos para os jovens se sentirem desmotivados na sua entrada para o mercado de trabalho. Aliás, isso “poderá significar inovação, criatividade e energia, essenciais para a promoção da mudança”, comenta.


A psicóloga defende que a mudança, que quebra paradigmas e estereótipos, deve ser encarada de forma positiva. “Os jovens devem entrar nas organizações com o espírito de mudança, de quebrar antigo paradigmas e estereótipos e ajudar no crescimento económico das empresas”, declara.


Ainda está indefinido o que devem fazer as empresas para prevenir síndromes como o Burnout. Por exemplo, um estudo da Gallup concluiu que diminuir as horas de trabalho não ajuda a reduzir o stress sentido pelos trabalhadores.


A estratégia para um bom ambiente de trabalho está a montante: a cargo das próprias empresas. Isso pode ser concretizado através de ações de sensibilização que ajudem os profissionais a reconhecerem estes sintomas em si e nos seus colegas. Além disso, devem ser realizados convívios fora do contexto laboral. “Estas iniciativas permitem a criação de uma rede de suporte social para cada um dos trabalhadores, fazendo com que se sintam apoiados e suportados pela estrutura laboral onde estão integrados”, garante.


A profissional de saúde salvaguarda que também é importante a compensação económica face ao desempenho de cada profissional, para que se possam ser adotadas medidas de avaliação de desempenho que conduzam, por exemplo, à atribuição de prémios.


"As próprias empresas e as suas chefias devem, igualmente, estarem sensibilizadas para esta realidade, orientando-se para a resolução efetiva desta problemática que permita a melhoria do estado emocional dos seus profissionais”, conclui Rute. Rute Rocha

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