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“Mulheres em união fazem a revolução": o lema que leva as mulheres à rua no dia 8 de março

por Tânia Soares (texto e edição)


No dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional das Mulheres e a Rede 8 de março juntou várias iniciativas para concretizarem uma Greve Internacional Feminista, com um manifesto escrito com a ajuda de várias organizações e pessoas individuais.


Esta iniciativa foi criada em 2018 por mulheres em países da América do Sul. A primeira Marcha foi em 2019 e espera-se que esta edição tenha o apoio do maior número de organizações feministas em Portugal. Para entender melhor esta iniciativa e os seus objetivos, o Do Outro Lado conversou com Catarina Barbosa, ativista em vários coletivos e participante na execução do manifesto.



Greve Feminista no Porto 2022 | Juliano Mattos @Rede8marco



A Rede 8 de março convoca tanto a Greve Internacional Feminista como a Marcha do Dia Internacional das Mulheres com o objetivo de "chegar a pessoas de grupos diferentes". Este projeto surgiu para "unir os vários coletivos feministas" e até mesmo aqueles que não são, mas que se identificam com a causa.


"O objetivo inicial foi criar uma rede entre estes coletivos em que todos pudessem trabalhar juntos e ser mais fortes"

Com a necessidade de se pronunciarem sobre vários assuntos que consideram importantes, os membros da Rede 8 de março expandiram-se para coletivos climáticos, da comunidade LGBTQ+, antifascistas e dos direitos humanos. " A rede quer ser agregadora e fazer com que exista uma luta unificada contra o patriarcado", afirma Catarina. Além disso, há vários outros objetivos dentro da iniciativa: consciencialização do problema, (até mesmo por parte das mulheres) e reforço de respostas a vários níveis como combate ao assédio sexual.




A Greve Internacional Feminista sai à rua dia 8 de março em várias cidades: Faro, Coimbra, Bragança, Aveiro, Barcelos, Vila Real, Porto, Lisboa, Braga, Guimarães, Chaves e Leiria. No dia, as mulheres fazem-se à estrada, onde vão ler o manifesto conjunto, reivindicando o que dizem ser direitos que estão a ser negados. Catarina Soares fez então parte do grupo político que fez o manifesto e respondeu a algumas questões.


Uma das vossas medidas é o pedido de "mais apoios sociais a famílias monoparentais e mães desempregadas". Sendo um movimento feminista, não seria justo incluírem também os pais desempregados? A fim da igualdade?


CB: A maior parte das famílias monoparentais com pessoas desempregadas são mães. Normalmente, os pais têm mais facilidade em arranjar emprego do que as mulheres e o salário é maior. Isto acontece exatamente pela igualdade salarial não existir e, portanto, é natural que as mães tenham mais esta necessidade. Uma mãe que tenha dois filhos ou um pai na mesma situação, o homem recebe mais para sustentar os seus filhos. Com isto, a mãe deixa de conseguir pagar escolas, alimentação, etc. Nós estamos a referir-nos a ambos quando dizemos "famílias monoparentais", porque desejamos a igualdade de género. No entanto, reforçamos as mulheres desempregadas porque existem mais nesta situação. É preciso salientar essa diferença.


Fonte: Pordata


Pedem “acesso facilitado a consultas de saúde sexual”, principalmente à comunidade LGBTQ+? O que é que está a falhar?


CB: Isso tem que ver particularmente com a fertilização in vitro para casais homossexuais. Isto ainda é uma problemática porque os únicos que têm permissão para o fazer são os casais que não podem ter filhos e isso deveria englobar os homossexuais exatamente por não puderem ter filhos biologicamente. Em várias instituições de saúde, este acesso é negado por não serem um casal que, sem sucesso, já tinha feito tratamentos de fertilidade e não conseguiram. Além disso, não há médicos de família suficientes. Se alguém precisar de uma consulta de carácter sexual e não tiver médico de família, só consegue através das urgências. Não há acompanhamento. É preciso reduzir a burocracia. Aliás, por exemplo, para testar HIV já existe acesso facilitado. O que não está é porque há estigmas ou porque não há diretrizes próprias e cada instituição age conforme a sua moral.


Exigem o fim das políticas racistas e colonialistas. Estão a referir-se a quê, concretamente?


CB: A imigração ainda é muito difícil e xenófoba no nosso país. Se uma pessoa ligar para o SEF, pode ficar dias à espera que atendam. Isto são políticas racistas porque, no fundo, estão a ser criadas barreiras para que algo não funcione bem - neste caso no acesso a direitos como ao refúgio, à imigração e à circulação, por exemplo. Isso acontece com pessoas vindas de África e América do Sul, mas não acontece com pessoas vindas da Europa nem da Inglaterra. Esta reivindicação também se prende com o comportamento violento da polícia (como foi o caso de Cláudia Simões). Não há regulação nem leis para prevenir estas situações (de racismo). Se existem, não são aplicadas. Por exemplo, se virmos uma mulher a ser agredida em público e não fizermos nada, pela lei somos cúmplices e até podemos ir a julgamento. Mas isto não é aplicado.


Em relação às colonialistas, é necessário entender que ainda existe um patriotismo em relação a estas ex-colónias. Ainda temos educação nas escolas a ensinar o colonialismo como se fosse o nosso auge, historicamente. Não se fala das atrocidades que cometemos. Nós fechamos os olhos e dizemos que foi uma época espetacular quando, na verdade, escravizamos, exploramos pessoas e destruímos culturas.


Em que sentido o fim do Plano de Fomento Mineiro ajuda nesta causa em nome das mulheres?


CB: Quando há situações que fragilizam a sociedade, quem já está mal é quem acaba por ficar pior. Portanto, nas alterações climáticas isso também acontece. O fim do Plano de Fomento Mineiro tem que ver com a exploração mineira, que é uma área que está a crescer ao invés de diminuir. Não é sustentável, nem se pensarmos a nível económico. Isto está relacionado com as mulheres porque esta exploração está a ser feita em regiões no interior de Portugal e essas povoações vivem ainda muito das mulheres (pela maior esperança média de vida). Estas aldeias são abandonadas pelos jovens para irem para as grandes cidades e, portanto, são envelhecidas. Para o governo, são o "lixo". Mas na realidade, estas escavações poluem o ar e a água, o que é perigoso porque estas pessoas, mutas vezes, não têm água canalizada e bebem da fonte ou do poço. Isto é uma questão a debater porque as mulheres sofrem com isto e são as mulheres que estão à frente desta luta.


Greve Feminista no Porto 2022 | Fábio @Rede8marco

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